n o c t u r n a

os sulcos da sede

Posted in Literatura by Hugo Silva on 25 Dezembro 2007

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Há uma semana atrás, durante uma espera por ti, entrei numa conhecida livraria para ler uma coisa que há muito não me chamava. Poesia. E para ler este género literário, onde as palavras procuram o seu lugar na eterna busca pela perfeição, é necessário sentir esse chamamento, essa necessidade quase visceral. Desfolhei alguns livros até encontrar a última obra publicada em vida por Eugénio de Andrade, em 2001, intitulada “Os Sulcos da Sede”. Sem ainda compreender a razão de o ter feito, abri o livro exactamente no último poema. Li-o duas vezes seguidas e sentei-me imediatamente num sofá que se encontrava perto de mim. Até tu chegares ainda li metade desta obra composta por 41 poemas, uma crónica de António Lobo Antunes e um posfácio de Lídia Jorge, publicada pelas Quasi Edições. Dado que haviam coisas para fazer abandonamos a livraria quando chegaste mas mais tarde existiu o inevitável regresso para levar o livro. Para o possuir. Já li todos os seus poemas uma meia dúzia de vezes e é, sem dúvida, uma obra para ter na mesinha de cabeceira para, de tempos a tempos, sentir as palavras deste saudoso poeta. Deixo-vos o último poema deste livro, o poema que amei a primeira vez que o li, como a ti…

 

NA LUZ A PRUMO

Se as mãos pudessem (as tuas,
as minhas) rasgar o nevoeiro,
entrar na luz a prumo.
Se a voz viesse. Não uma qualquer:
a tua, e na manhã voasse.
E de júbilo cantasse.
Com as tuas mãos, e as minhas,
pudesse entrar no azul, qualquer
azul: o do mar,
o do céu, o da rasteirinha canção
de água corrente. E com elas subisse.
(A ave, as mãos, a voz.)
E fossem chama. Quase.

 

P.S.1 Esta foi a tua parte preferida: “Há um pequeno sismo em qualquer parte ao dizeres o meu nome.”

P.S.2 A imagem é da autoria de Tiago Silva.

P.S.3 Alice, muito obrigado por me teres apresentado E. de A. há alguns anos.

P.S.4 Podem ler aqui a melhor crítica que li a “Os Sulcos da Sede”, de Arnaldo Saraiva.

rap | boca do inferno

Posted in Humor, Literatura by Hugo Silva on 15 Dezembro 2007

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Falar deste conjunto de crónicas de Ricardo Araújo Pereira é, acima de tudo, perder tempo. Nada se poderá dizer delas que o leitor não descubra logo à primeira leitura – ou ainda antes. No entanto, poucas coisas serão mais estimulantes para os ociosos do que uma tarefa fácil. Eis porque é, para nós, um prazer efectuar a recensão crítica deste livro. (…) A obra de Ricardo Araújo Pereira integra todas as estratégicas de depreciação do humano, e é muito interessante constatar como esse menosprezo concorre para compor uma homenagem, uma sublimação e uma redenção – o que é paradoxal apenas na aparência. E também vale a pena observar com particular cuidado a forma absolutamente brilhante como, ao longo de todo de todo o livro, Araújo Pereira consegue camuflar que, na verdade, não tem nada para dizer.

Manuel Rosado Baptista «Posfácio Relativamente Interessantíssimo»

Este foi o último livro que comprei. Trata-se de um interessante e divertido conjunto de crónicas escritas pelo gatinho Ricardo Araújo Pereira. Provavelmente, será a minha leitura deste fim-de-semana.

“Um livro essencial para compreender o nosso tempo, especialmente a parte da tarde.”

into the wild

Posted in Filmes, Literatura, Música by Hugo Silva on 21 Outubro 2007

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“If you want something in life you jump and grab it.”

“Into the Wild” é o filme que mais aguardo neste momento. Querem saber porquê? Então vamos lá. O filme é inspirado pelo romance publicado em 1996 por Jon Krakauer relatando a vida de Christopher McCandless. O filme é escrito e realizado por um senhor chamado Sean Penn. O elenco é composto por nomes como Emile Hirsch, Marcia Gay Harden, Catherine Keener, Jena Malone, Vince Vaughn, Kristen Stewart e o genial William Hurt. And at last but not least, a banda sonora está todinha a cargo de (um rufo de tambores, por favor) Eddie Vedder!

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Shortly after Pearl Jam released Ten, a disillusioned twenty-something named Christopher McCandless dropped out of society, hitched cross-country and perished in the Alaskan wilderness. Now Eddie Vedder tells the young man’s story on the soundtrack to Sean Penn’s Into the Wild, tossing his weighty baritone onto earthy, folky tracks that temper the romance of absolute freedom with an eerie foreboding. Vedder strikes a cinematic tone on the jangly opener, “Setting Forth,” and ten more sketches that evoke days spent contemplating a vast skyline. Sleater-Kinney’s Corin Tucker adds alluring harmonies to a rollicking cover of Indio’s “Hard Sun,” and Vedder, free from the noise (and outrage) of his day job, disappears into the sublime beauty of the simple, banjo-plucked “No Ceiling.”

Rolling Stone

Enquanto escrevo este texto estou a ouvir as onze músicas incluídas no álbum editado em 18 de Setembro. É quase uma viagem no tempo para os primeiros trabalhos dos Pearl Jam, mas ao mesmo tempo as músicas estão temperadas com uma sabedoria e calma que as tornam intensas e profundas. É muito difícil escolher uma para vos mostrar, pois estou apaixonado por todas! Mas pronto, aqui têm “Society“. O filme estreou nas terras do tio Sam em 21 de Setembro. Podem visitar a página oficial e ver o trailer. Alguém aí sabe quando chegará às nossas salas de cinema?

a página dos fragmentos

Posted in Literatura by Hugo Silva on 14 Outubro 2007

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Em todos os livros que lemos, independentemente do quanto gostamos dessa obra, somos iluminados por pequenos excertos que nos aquecem o coração e nos inundam a alma. Um dia mais tarde um som, um cheiro ou uma palavra transporta-nos para esse pequeno fragmento que lemos e permanece para sempre escondido nas profundezas do nosso ser, à espera do momento de despertar e dar um sentido especial a um certo momento das nossas vidas. Por vezes, ajudam-nos a compreender a complexidade humana e a tomar importantes decisões. São estes pedacinhos que vou partilhando convosco neste espaço. Podem visitá-lo sempre que quiserem clicando aqui ou no link em cima, arrumado na barra de páginas.

aventuras fantásticas

Posted in Jogos, Literatura by Hugo Silva on 21 Setembro 2007

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Tal como prometido hoje ao Bruno, a quem agradeço este saudoso regresso ao passado, aqui está o post sobre esta fantástica colecção de livros-jogo. Neste preciso momento tenho à minha frente os exemplares que possuo e ainda me recordo que o primeiro que comprei foi “A Floresta da Morte”, numa livraria em Aveiro por 680 escudos! Também me lembro perfeitamente que o meu preferido sempre foi “A Cidade dos Ladrões”! Para os que não conhecem esta colecção intitulada Aventuras Fantásticas, lançada em Portugal pela Editorial Verbo, é composta por livros interactivos em que o leitor escolhe o curso da história. A leitura não é efectuada de uma forma comum, mas sim por uma espécie de pequenos textos numerados que vai ditar o desenrolar da acção, cabendo ao leitor todas as decisões. Durante a história sucedem-se batalhas ou combates que são decididos com a utilização de dados e registando as informações em tabelas próprias. Expliquei o melhor que pude, pois não há nada como experimentar! Este viciante conceito foi criado por Steve Jackson e Ian Livingstone, em 1982, depois de ambos fundarem sete anos antes a Games Workshop. Podem obter mais informações na página oficial desta colecção e efectuar aqui o download de alguns dos títulos (em português do Brasil). Também verifiquei que estão quase todos os livros disponíveis na Fnac por apenas 6,29€ cada. Pessoalmente, vou aproveitar a folga de amanhã para matar saudades com uma destas aventuras fantásticas…

paul auster | travels in the scriptorium

Posted in Literatura by Hugo Silva on 16 Setembro 2007

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Um homem de uma certa idade está sentado num quarto, com apenas uma porta, uma janela, uma cama, uma secretária e uma cadeira. Acorda todos os dias sem memória, não tendo a certeza se está ou não trancado no quarto. Anexadas aos poucos objectos à sua volta estão etiquetas escritas à mão com apenas uma palavra; na secretária encontra-se uma série de fotografias a preto e branco vagamente familiares e quatro pilhas de papel. Em seguida, uma mulher de meia-idade chamada Anna entra no quarto e fala de comprimidos e tratamentos, mas também de amor e promessas.

Existe por aí alguma alma caridosa que me ofereça o último romance de Paul Auster lançado por estas terras? Em troca prometo fidelidade e mordomia eternas…

a 5ª frase da página 161

Posted in Literatura by Hugo Silva on 8 Setembro 2007

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Este é um desafio que se encontra espalhado por inúmeros blogs nos últimos tempos. O primeiro local onde o vi foi precisamente n’ A Casa Verde da minha colega Rita. Hoje decidi fazer o mesmo, mas de um modo um pouco adulterado, pois tenho ao meu lado vários livros. Deixo de seguida a quinta frase completa das suas páginas número cento e sessenta e um.

 

E agora era mais ou menos a mesma coisa, não era?

Stephen King, A História de Lisey

 

We’ll find something – candles or crucifixes or something – and buy some garlic on the way home – I mean to my apartment.

Elizabeth Kostova, The Historian

 

Foi então que saíste do quarto para a sala de música, foi então que te ajoelhaste diante da suite número seis para violoncelo de johann sebastian bach e fizeste com os ombros aqueles movimentos rápidos que nos seres humanos costumam acompanhar o choro convulsivo, foi então, com os teus duros joelhos fincados no duro soalho, que a tua exasperação de repente se esvaiu como a imponderável névoa em que às vezes te transformas quando não queres ser de todo invisível.

José Saramago, As Intermitências da Morte

a última crónica

Posted in Cultura, Literatura by Hugo Silva on 26 Agosto 2007

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Eduardo Prado Coelho faleceu ontem de manhã, aos 63 anos de idade, vítima de doença súbita. Escrevo este post a poucas horas do seu funeral, no cemitério dos Prazeres. E foi precisamente publicada esta manhã no Jornal Público o seu último texto, intitulado “Ai simplex!”. Podem lê-lo aqui, como todas as suas restantes crónicas. Eduardo Prado Coelho deixará um espaço vazio na escrita e cultura portuguesa que muito dificilmente será alguma vez preenchido.

ruin & misery

Posted in Literatura by Hugo Silva on 22 Julho 2007

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Uma adolescente residente nas Filipinas suicidou-se após ter lido o final do que pensava ser uma cópia legítima do último livro de Harry Potter. A mesma foi obtida numa página de internet e a história terminava num cenário muito negro para Potter e os seus amigos. Após terminada a leitura com a sua mãe a jovem trancou-se no quarto onde mais tarde foi encontrada morta por enforcamento.

Fonte

São estes casos que nos levam a questionar em que mundo completamente despido de valores vivemos?

you are welcome to elsinore

Posted in Literatura by Hugo Silva on 14 Julho 2007

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Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

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Este é o poema que foi incluído no álbum “Lisboa” que referi aqui. Excelentemente acompanhado pelos BCN e recitado pelo próprio Cesariny, utilizando uma gravação recuperada. É um dos melhores poemas da autoria do falecido poeta, sendo este o meu preferido. Podem também ouvir a última entrevista de Cesariny.